
Série Avenida Paulista: Histórias da Família Borges de Figueiredo
Nesta semana, encerramos a série escrita por Flora Figueiredo sobre a história da família Borges de Figueiredo. Nos textos anteriores, a poetisa compartilhou relatos sobre sua família materna, que tem raízes em Jayme Loureiro. Hoje, ela nos apresenta o lado paterno, que começou com a chegada de seu avô, José Borges de Figueiredo, ao Brasil. Vamos nos aprofundar nessa emocionante narrativa de Flora.
Memórias de um Pai
Celso Figueiredo, meu pai, nasceu em 1903 e era filho de pais portugueses. Sua mãe, Maria Augusta Figueiredo, era conhecida por seu caráter humanitário e por ser benfeitora da Maternidade São Paulo e da Beneficência Portuguesa. Seu pai, José Borges de Figueiredo, foi um dos fundadores da Avenida Paulista em 1891, ao lado de Joaquim Eugênio de Lima, e também contribuíu para a fundação do Banco de São Paulo e foi diretor da Santa Casa.
José e Maria Augusta tiveram cinco filhos: José Borges de Figueiredo Junior, Aurora, Esther, Mário e Celso. A família morou na Avenida Paulista, na casa que meu avô construiu em 1897, projetada pelos arquitetos Augusto Fried e Carlos Ekman. Essa residência se tornou um marco da história familiar e da própria Avenida Paulista.
A Vida na Avenida Paulista
Meu pai, órfão de pai aos nove anos, foi criado por seus irmãos mais velhos e teve a oportunidade de estudar na Europa, onde se formou em Medicina na Universidade de Paris. Ele também fez mestrado no Uruguai e doutorado na Alemanha, tornando-se um poliglota. Tive a sorte de ter uma mãe que também falava várias línguas, resultado da educação rigorosa de seu pai.
Como médico, meu pai era um perfeccionista. Ele realizava todas as etapas do trabalho em seu consultório: fazia radiografias, revelava os filmes e redigia laudos. Era conhecido por não aceitar ajuda técnica e, muitas vezes, não cobrava de seus clientes, o que afetava o orçamento familiar no final do mês.
Experiências Marcantes
Entre as histórias que ele contava, uma das mais marcantes foi sua participação na Revolução Constitucionalista de 1932, quando atuou como médico do batalhão. Ele também tinha uma habilidade especial em Radiologia, e muitos colegas, como o Dr. Joaquim de Toledo Netto, guardavam suas radiografias como obras-primas da especialidade.
Uma anedota engraçada que sempre recordamos era sobre como, certa vez, ao descer no elevador do prédio onde era seu consultório, um pacote que ele carregava se rompeu, fazendo com que ossos rolassem pelo chão, gerando pânico entre as senhoras presentes. Essa imprevisibilidade trazia risadas e momentos inusitados que tornavam a vida ao seu lado sempre emocionante.
Legado Familiar
Meu pai era um homem de família. Apesar de sua natureza excêntrica, ele sempre prezou pela educação e respeito ao próximo. A severidade que aplicava na formação dos filhos era equilibrada por um amor profundo. Crescemos em um ambiente amoroso, onde o diálogo era incentivado, e as conversas à mesa eram frequentes e enriquecedoras.
A diferença de idade entre meus pais e eu trouxe um aspecto interessante ao nosso relacionamento. Quando nasci, meu pai já tinha 41 anos, o que o tornava significativamente mais velho do que os pais de meus colegas. No entanto, sua mentalidade sempre esteve à frente do seu tempo, procurando se adaptar e entender as novas gerações.
Reflexões e Contribuições
Uma das lições mais valiosas que aprendi com meu pai foi a importância da leitura e da apreciação dos pequenos momentos, como admirar um pôr do sol. Ele costumava parar para contemplar a beleza da natureza, mesmo em meio à agitação da cidade, e isso me ensinou a valorizar a simplicidade da vida.
Em 1965, meu pai descobriu uma grave condição nos rins de minha mãe durante um exame. A partir desse momento, sua dedicação a ela foi total, aliviando seu sofrimento até o falecimento dela em 1971. Essa perda deixou uma marca profunda em sua vida.
Uma História Que Continua
Muitos anos depois, no dia da Missa de Sétimo Dia de minha mãe, meu pai, que não tinha formação religiosa, expressou seu desejo de comungar. Com isso, ele fez sua Primeira Comunhão aos 68 anos. A relação que ele construiu com os netos após a morte de minha mãe foi uma forma de compensar a ausência que ele mesmo sentia.
Hoje, ao refletir sobre a história da minha família, vejo que somos herdeiros não apenas de um sobrenome, mas de valores profundos que moldaram quem somos. A história de meu avô, José Borges de Figueiredo, e a influência que ele exerceu na cidade de São Paulo são legados que nos conectam ao passado e nos inspiram a continuar contribuindo para o futuro.
Assim, agradeço à Flora Figueiredo por compartilhar suas memórias preciosas e por nos permitir conhecer melhor a história da Avenida Paulista e da família Borges de Figueiredo. Suas narrativas são um convite à reflexão sobre a importância da memória e do legado familiar na formação da identidade de uma cidade e de seus habitantes.
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